terça-feira, 22 de julho de 2014

Brotherhood Death Fest II

Há algum tempo atrás eu tinha uma coluna falando de eventos e bandas do meio underground em um site que se encontra fora do ar por tempo indeterminado. Minha última publicação foi a resenha da segunda edição do evento Brotherhood Death Fest, que ocorreu no Rio de Janeiro dia 19 de abril de 2014.
A matéria contou com uma entrevista que fiz com os produtores do evento também, e como o Rock Pra Todos se encontra fora do ar, decidi deixar tudo registrado aqui no Extreme Head. :)




Podemos dizer que o Brotherhood Death Fest realmente é uma irmandade. Bandas, organização, público fiel... Uma grande união que faz o festival acontecer, onde ninguém se difere e tudo gira em torno de apenas uma coisa: Death Metal. 
A primeira edição do evento no Rio de Janeiro, que eu tive o prazer de presenciar, contou com um cast de bandas impecável. Ainda tenho o meu ingresso guardado, lembro-me perfeitamente das apresentações do Vomepotro, Ayin, Anarkhon e Gutted Souls, a única banda carioca da noite. E, há quem diga que fã de Death Metal é suspeito para falar, mas essa edição não me deixou dúvidas de que, naquele ano, o Brotherhood foi o melhor evento underground que eu fui.
A segunda edição do evento anunciada para o dia 19 de abril no Rio de Janeiro, mais uma vez anunciou um cast muito bem selecionado, contando com os paulistas do Vomepotro, os gaúchos do In Torment e os cariocas do Visceral Leishmaniasis e, pela primeira vez no Rio, os finlandeses do Inferia. Quem presenciou a primeira edição não perderia a segunda, e quem perdeu, não perderia de novo.


É interessante e ao mesmo tempo muito admirável ver hoje em dia uma produção interessada unicamente em agregar na cena underground local, sem visar autopromoção ou lucro. Tive essa impressão do festival desde a primeira edição, e, por esse motivo, o nome “Brotherhood” chamou a minha atenção, o que me fez entrar em contato com a produção do evento para uma entrevista, a fim de saber mais a respeito das ideias por trás desse evento matador. Confiram abaixo a entrevista com os dois idealizadores do fest, Eduardo Pereira e Cristiano Martinez.







Como surgiu a ideia do festival?

Cristiano: O evento nasceu porque tanto eu como o Eduardo sempre comentávamos que seria interessante se bandas de outros estados que não têm a oportunidade de vir para o Sudeste tivessem essa chance, só que tocando em um evento profissional com uma estrutura digna e não o que às vezes vemos por aí, existem muitas bandas despontando na cena, chamando a atenção e lançando álbuns maravilhosos. Basicamente a ideia foi essa, e então, as conversas sobre criar um evento de Death Metal surgiram naturalmente.

Eduardo: Tudo teve início numa conversa telefônica entre eu e o Cristiano, em novembro de 2012, quando conversávamos sobre algumas bandas excelentes do cenário Death Metal nacional e que, como o Cristiano disse, não tinham a oportunidade de tocar por aqui, ou que, quando vinham tocar, não possuiam uma estrutura condizente à importâncias dessas bandas. Tínhamos como exemplo uma banda de amigos que viria tocar em São Paulo e no Rio e que acabou não tendo essas datas confirmadas e não rolaram os shows.

Estamos na segunda edição do Brotherhood, exatamente um ano após a estréia, e há previsão de uma terceira edição ainda esse ano. Vocês
pretendem encurtar os intervalos entre as edições futuramente?        

Cristiano: Acredito que sim! Ainda precisamos conversar entre nós (organização) para que algumas coisas sejam discutidas, mas a ideia é realizar uma nova edição talvez em novembro, já temos bandas em uma lista que fizemos e agora é só segui-la, mas a lista é enorme e precisamos ir com calma... (Risos)         

Eduardo: Eu e o Cristiano estamos sempre conversando sobre o futuro do Brotherhood e sobre as bandas que colocaremos no cast. O cast é um consenso entre eu e ele, sobre quais bandas irão tocar e costumamos fechar o cast, ou, pelo menos, um esboço do cast, com duas edições de antecedência, sendo assim, temos praticamente um cast já fechado para uma terceira edição e um esboço para uma quarta edição. Como temos uma visão idêntica, nunca entramos em desacordo sobre as decisões e temos conversado bastante a respeito.

Qual a maior dificuldade encontrada em produzir um evento desse porte?

Cristiano: Acho que a maior dificuldade é bater de frente com os eventos grandes. Temos que tomar cuidado para que não tenhamos um show no mesmo dia de um evento com banda grande de Death Metal, no mesmo fim de semana que o Brotherhood, por exemplo, e também o principal de tudo que é fazer um evento profissional dentro de um orçamento pequeno, pois não temos como dar passos largos e uma próxima edição só acontece se o evento continua fazendo dinheiro sozinho.
Eduardo: Creio que uma das maiores dificuldades foi dar o primeiro passo para que o evento pudesse ser realizado, e, a cada novo passo, uma nova dificuldade. Como o Cristiano disse, existe essa possibilidade de algum grande evento ser na mesma data e, como nós dois planejamos o Brotherhood com bastante antecedência, tanto as datas da próxima edição, como o cast que irá tocar, isso dificulta um pouco, pois muitos shows são marcados após já termos fechado as datas. Temos como exemplo essa edição no Rio de Janeiro, que foi na mesma data do Rock Humanitário e muita gente não pôde ir ao Brotherhood justamente por estar em outros shows, como o Rock Humanitário, ou o Mortuary Drape.

O evento é realizado no Rio e em São Paulo. Qual a diferença entre

os dois? Existe alguma diferença na essência e estrutura dos dois? Falem um pouco da edição de São Paulo.

Cristiano: Na edição de SP a estrutura é a mesma, equipamento de palco matador e o local tem uma boa localização, o público lotou as duas edições, não há diferença nenhuma, a única coisa é que sempre vai ter uma banda local em ambos os locais porque temos essa meta de dar oportunidade para bandas novas.

Eduardo: Exatamente. Tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Paulo, a essência é a mesma, a estrutura é a mesma. A diferença é exatamente essa, com relação ao cast: temos três bandas, que tocarão sempre nas duas edições, e uma banda local, que só tocará no seu próprio estado. Além disso, visamos fazer sempre a data de sábado no Rio de Janeiro e a de domingo em São Paulo, pois creio que o público carioca não está muito familiarizado com eventos aos domingos, diferente do público paulista, que já está mais acostumado com shows aos domingos.

O nome do festival remete a ideia de parceria e irmandade, ainda
mais por ser voltado exclusivamente para o Death Metal, um gênero entre tantos. Essa é a filosofia de vocês? De que forma querem que o público veja isso? 

Cristiano: Quero que o público entenda que a "prioridade" do evento é trazer bandas de outros estados, bandas locais tem facilidade para tocar, a ideia é o que comentei anteriormente, trazer bandas que queremos assistir e que tem um nome crescendo na cena. Nossa outra "prioridade" é fazer um evento profissional, quem for vai sair dizendo que foi ótimo e que vai de novo nos próximos. Somos uma irmandade, um ajudando outro em prol ao underground, que é a paixão! 

Eduardo: O nome Brotherhood, na verdade, foi uma sugestão do próprio Cristiano. Não tínhamos um nome para o festival, então o Cristiano perguntou-me: o que acha de colocarmos o nome do festival de Brotherhood Death Fest? Não só gostei do nome, como aceitei prontamente, afinal, essa é a filosofia do festival, a essência dele. Somos uma verdadeira irmandade, onde as bandas participantes são amigas entre si e estão na mesma luta, na mesma batalha no underground. Não há ego entre as bandas, ninguém é melhor do que ninguém, como o Cristiano disse, é um ajudando o outro, contribuindo da forma que pode. E o mais legal é que essa filosofia está espalhando-se não só entre as bandas.

Vemos nomes de várias partes do país no festival, e nessa edição

contamos com a presença da banda finlandesa Inferia. Existe a ideia de expandir o festival para outros locais além do circuito Rio-São Paulo?


Cristiano: Bandas de outros países podem continuar aparecendo por aqui, isso depende muito das condições, mas é uma ideia que faz parte, como disse anteriormente, a ideia inicial é manter só o eixo RJ/SP e o que queremos na verdade é que a galera que fala demais e fica de braços cruzados comece a fazer algo pela cena, se todos fizerem sua parte muita coisa vai mudar e melhorar! Imagina se outros estados fizessem a mesma coisa que estamos fazendo, haveria mais eventos como esse sempre!!!
Eduardo: Há a possibilidade de mais bandas internacionais em edições futuras. Conversamos sobre isso frequentemente. Sobre expandir o festival, quem sabe mais adiante, quando o festival estiver totalmente consolidado. Uma coisa que me atraia era a concepção do Ozzfest. O festival, na verdade, era como uma grande tour. Quem sabe futuramente, o Brotherhood não possa ir nessa direção? Levamos o nome do festival e as bandas que irão tocar nas edições do Rio e de São Paulo para mais algum outro estado.


Quais os principais compromissos da produção com o público, com as bandas e os demais envolvidos no Brotherhood Death Fest?    

Cristiano: Organizar um evento matador para que todos saiam felizes sabendo que cada centavo que pagou para entrar valeu a pena!!!!!!! No que depender de nós o Brotherhood só vai crescer!!!!! As bandas que participam saem felizes e esse é o nosso principal objetivo. O Death Metal está vivo e jamais morrerá!!!!                                    
Eduardo: Organizarmos um evento com a visão do público e das bandas, não com a visão de produtor. Não visamos exclusivamente o lucro, nem queremos deixar as bandas underground com uma péssima estrutura e muito menos o público com eventos de qualidade ruim e mal organizados. Procuramos um profissionalismo acima de tudo. Nós nos colocamos no lugar do público e das bandas e nos perguntamos: o que podemos fazer para melhorar isso?
Eu e o Cristiano somos apaixonados por Death Metal e essa sempre será a essência do festival. Como eu costumo dizer: não há estilo musical mais honesto do que o Death Metal, pois é um estilo que nunca virou moda e sempre precisou sobreviver no underground. Há festivais de Black Metal, Thrash Metal, até mesmo de Grindcore, sem falar em outros estilos não extremos do Metal. Mas, festival única e exclusivamente Death Metal, não há. E é essa a proposta do Brotherhood! Ser um festival exclusivo de Death Metal, servindo de modelo de qualidade e, quem sabe, incentivando a criação de outros festivais de Death Metal. Tendo-se em vista o sucesso de público e os comentários sobre o festival, inclusive em outros estados, podemos dizer que todos sentiam essa ausência de um festival exclusivo de Death Metal. O Metal da Morte sempre estará vivo!



Visceral Leishmaniasis



O Visceral Leishmaniasis abriu a noite, representando muito bem o Rio de Janeiro com o seu Slamming Brutal Death de excelente qualidade. Luanna, como sempre, conduziu muito bem os vocais, e a banda iniciou o evento com a música Male Bitch. Seu set list oficial era composto por 8 faixas e um cover; Killing On Adrenaline do Dying Fetus, uma das maiores influências da banda. Por conta de alguns problemas técnicos, infelizmente a banda encurtou seu set list, cortando 4 faixas, inclusive o cover. Tocaram faixas como Corporal Punishment e Leishmania, e encerraram com Severe Masturbation.
A apresentação do Visceral Leishmaniasis foi uma que eu particularmente gostaria muito de ter presenciado, e que infelizmente, eu só pude ouvir. Por uma série de fatores, todos estavamos com o tempo corrido naquela noite, e, durante o show da banda, a equipe do Rock Pra Todos ainda estava realizando uma entrevista no andar de cima da casa. O som que eu pude ouvir do VL durante a entrevista só me fez lamentar mais ainda por não ter assistido o show, que segundo o público, foi excelente, apesar de mais curto.


Vomepotro


O Vomepotro iniciou seu set list brutal com um som do seu segundo álbum Liturgy of Dissection, Assassin Psycopath. Parricidal Massacre e Voracious Atrocity vieram em seguida, dois sons pré-lançamento do terceiro álbum da banda.
Bastou que os caras pegassem os seus instrumentos e começassem a tocar, para que todos ali enlouquecessem. Os moshs violentos se formavam música após música. E acrescento que, o Vomepotro é o tipo de banda que quando toca, você não sabe se bate a cabeça ensandecidamente, se vai para dentro do caos dos moshs ou se simplesmente olha o show, para absorver com toda a atenção a bela destruição que aquele conjunto de instrumentos produz no palco.
Após tocarem a música Liturgy of Dissection, a banda tocou Bastard of Christ, um clássico do Deicide. O único cover que os caras mandaram foi justamente esse, especialmente para todos os fãs de Death Metal de verdade ali presentes. A galera enlouqueceu imediatamente, e aquilo foi realmente lindíssimo de se ver. De ouvir, cantar, fazer parte.
O line-up que inclui Cristiano Martines e David Ferreira nos vocais e guitarras, Cristiano Nery no baixo e André Martuchi na bateria, estava realmente impecável naquela noite. Após mais duas músicas de pré-lançamento do terceiro álbum, a banda encerrou sua apresentação com Worms Devour My Flesh, do primeiro álbum Zombie Gore Vomit.


In Torment




Terceira apresentação da noite, os gaúchos do In Torment fizeram um show impecável. Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de vê-los ao vivo. Eu não esperava menos do que vi e ouvi ali, mas ainda assim, o show foi surpreendente, pelo fato de os caras mandarem tão bem ao vivo. O som de todos os instrumentos era impecável, podia-se ouvir perfeitamente cada um deles. Após a Intro, iniciaram o set list com The Flesh and the Spirit do segundo álbum Paradoxical Visions of Emptiness, e em seguida tocaram Into Abyssal Landscapes, do EP The Flesh Gateway de 2013, som bem conhecido pelo vídeo oficial da banda no youtube


Durante as duas ou três primeiras músicas, a galera se aglomerou em frente ao palco para assistir o show. O In Torment é outra banda que é tão boa ao vivo que você faz questão de assistir o show absorvendo atento tudo o que puder do som.  E então Alex, vocalista, perguntou ao público se o mesmo estava morto... E claro que, em resposta, um verdadeiro caos surgiu entre a galera, cheio de moshs, punhos erguidos e pescoços histéricos acompanhando aquilo.
 Particularmente, eu estava ansiosa para ouvir algo do Sphere of Metaphysical Incarnations, álbum de 2014 pré-lançado, e, as duas músicas seguintes foram faixas dele. Inclusive, uma delas foi a música The Unnatural Conception, faixa que gerou um clipe gravado em março de 2014. As três faixas seguintes foram Paradoxical Visions of Emptiness, Labyrinth of Depravity e Elements of Sadistic Cruelty, também do segundo álbum Paradoxal Visions of Emptiness. E a próxima faixa foi uma que quase me fez quebrar o pescoço: Grotesque Defacement! Faixa do primeiro álbum, Diabolical Mutilation of Tormented Souls. Fecharam com Far Beyond Mortality.




INFERIA



A banda finlandesa Inferia foi a última a se apresentar no festival, e de cara me emocionou por uma série de motivos. Jani Huttunen subiu no palco com uma linda camisa verde e amarela do Sepultura, e os caras iniciaram o show com a primeira faixa do novo álbum Fistament; Intro: The Sultan of Smut. As faixas seguintes também foram do Fistament, incluindo We’re Still Licking and Alive, Plowed, Prior To Screw, Due the Blood Entering, GTO’s, Asstard, Fistress e Climax. 
A interação dos caras com o público foi demais, só posso mesmo usar a palavra FODA para descrever. Desde a primeira música, o público reagiu ao som dos caras com moshs ABSURDOS, aquele lugar não parava de estremecer. Os caras fazem um Porngrind realmente muito excitante: gera O GÁS para quebrar tudo, é impossível ficar parado.


A banda tocou faixas do álbum No Sperm Shall Be Spared também, como 69 Position. Jani Huttunen desceu do palco para cantar no meio da galera, total interação com o público. Ele foi levantado pela galera, como se pode ver na foto, e claro que foi demais. Cantou no meio do mosh, foi simplesmente lindo. O Inferia incluiu no set set list também a música Chaos In My Life da banda The Exploited, foi a penúltima música do set list, em seguida fecharam com Dick’s Cruxifix , do álbum No Sperm Shall Be Spared.
Os finlandeses fizeram um show maravilhoso. Um show que me fez voltar para casa já com saudades daquela noite, esperando não só por mais uma edição do Brotherhood Death Fest, mas esperando também por uma nova oportunidade de ver essa banda foda ao vivo mais uma vez.

Deixo com vocês um pequeno registro junto com as minhas saudades dessa maravilhosa segunda edição do evento.


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